Clima – O presente, o passado – Que futuro?

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Diariamente ouvimos e lemos frases como “o tempo já não é o que era”, “isto está tudo mudado”, “onde isto vai parar?”. Terá mudado assim tanto em tão pouco tempo?

Aqui não me vou debruçar sobre causas ou soluções, vou debruçar-me sobre estatística e dados concretos para o efeito, para Portugal Continental.

Olhemos então mês a mês o que se vai passando:

Decorrente da intensificação do anticiclone dos Açores nos invernos, o clima está a tornar-se muito mais seco nos Janeiros, sem que isso se efetive em tempo necessariamente mais quente que o normal climático, ou seja, há um padrão que nos parece favorecer a instalação de geadas mais intensas nas zonas de interior e de vale, decorrente da estabilidade atmosférica nos meses de Janeiro.

Fevereiro segue em tudo o que foi escrito para Janeiro.



Mês com repartição equitativa entre os 4 quadrantes, principalmente nos últimos 20 anos. Nota-se que neste período de tempo, alguns dos anos foram, ora os mais secos (ou próximo disso) ora os mais chuvosos de sempre, criando em termos de pluviosidade uma certa extremidade neste mês de Março. Apresenta ligeira tendência para que os meses possam situar-se no futuro mais nos quadrante 1 e 2 em termos de temperatura, o que significa uma progressiva subida face aos anos anteriores.



Abril dará no futuro alguma consistência ao Provérbio Popular “Abril, águas mil!”, isto porque mantém uma média de precipitação elevada nos últimos 20 anos, com a grande percentagem dos anos a situarem-se entre os 70 e os 180% do normal. Contudo, começam a distanciar-se os anos onde Abril foi extremamente chuvoso, tais como 1966 e 2000.



Maio será tendencialmente um dos meses mais quentes do ano no futuro. A esmagadora maioria dos últimos 20 anos apresenta-se no quadrante 1, ou seja, meses secos e quentes face ao normal. Alguns dos últimos anos foram mesmo os mais quentes de sempre, neste mês de Maio, em Portugal Continental. Sendo o último mês da Primavera, será cada vez mais o prólogo do Verão!



Junho tem igualmente apresentado a tendência de Maio. Pese embora com menor sinal estatístico que Maio, por grande dos anos estar perto do eixo horizontal, Junho tem tendência para aquecer e secar no futuro. A intensificação do anticiclone dos Açores, associado à subida das temperaturas médias do ar neste mês e à instalação de uma depressão típica dos meses de Verão no interior espanhol faz com que os Junhos, na sequência dos Maios, intensifiquem a nortada e os nevoeiros. É isso mesmo que, em nosso entender, difere entre Maio e Junho… ou seja, a instalação de um cada vez mais notório padrão persistente de nortada.



Julho! Apresenta tendência de secar cada vez mais no futuro, sem que isso signifique propriamente um mês de torrar, antes pelo contrário, Julho não tem sinal estatístico em termos de temperaturas. Apresenta anos antagónicos… com alguns muito quentes e pouca nortada, maioritariamente no interior e sul do território ou os mais frescos, os que com muita nortada e nevoeiros acabam por não estabelecer correntes de leste intensas e persistentes. Creio que a tendência futura dos Julhos possa ser intensificação da nortada e dos nevoeiros, podendo os anos mais intensos em termos de furacões do Atlântico neste mês virem a ser mais quentes que o normal, pela subida da dorsal africana mais cedo.



Agosto será por norma e principalmente na 2ª quinzena, o início do período mais agradável de verão no litoral. É um mês tendencialmente mais seco a cada ano e igualmente mais quente. Creio que o facto da época de furacões retomar com atividade mais intensa geralmente na 2ª quinzena deste mês possa ter a ver com esta posição no quadrante 1.



Se Maio é o prólogo do Verão, Setembro será o epilogo do Verão, ou seja, o acrescento futuro aos meses principalmente de Maio e Agosto (para ser mais genérico). Isto equivale a dizer que, o Verão pende a tornar-se mais prolongado no tempo (entre Maio e Setembro/Outubro por vezes), mas no litoral ser mais sentido nos meses de Maio, Agosto (finais) e Setembro. Em termos de chuva, o sinal é decrescente, com apenas 6 dos últimos 20 anos a mostrar sinais positivos nesse sentido.



Outubro é um mês tendencialmente mais quente e mais húmido que o normal climático nos últimos anos e, já que falamos de época de furacões do Atlântico, o esticar cada vez mais notório do Verão além Setembro, influenciará a possibilidade crescente de no futuro virmos a ter mais visitas destes sistemas ciclónicos, quer por absorção de cavados a norte quer por formação em águas quentes insulares ou mesmo na costa continental.



Novembro é o mês mais equilibrado de todos! Não há sinal que justifique qualquer tipo de mudança nos últimos anos face aos Novembros do passado.



O último mês do ano é igualmente cada vez mais seco que o normal, mas sem sinal estatístico em termos de temperaturas. A tendência em meu entender será, com a intensificação do anticiclone dos Açores e a estabilidade mais vincada neste mês no futuro, o estabelecimento de anos mais frios que o normal.

Dados estatísticos globais (FONTE: IPMA)

PRECIPITAÇÃO

Em termos de precipitação e com recurso à média de cerca de 50 estações oficiais, conseguimos os dados do gráfico abaixo:



Em suma, nota-se que as Primaveras, após um período mais seco entre 1970 e 1999 começaram, nas últimas duas décadas a recuperar quantidade de precipitação, sendo que ainda está abaixo do que era o período 1940-1969.

Os Verões têm vindo a perder precipitação, a secar cada vez mais ao longo dos anos, sendo que a última década apresenta a menor precipitação média anual desde que há registos.

Os Outonos inverteram o sinal da Primavera, isto é, são tendencialmente mais chuvosos que no período 1940-1959 e têm vindo a manter um volume médio de precipitação acima do que foram as décadas até 1979 (com exceção da década mais chuvosa – 1960-1969). Recorde-se que foi nesta década que ocorreu uma das maiores tragédias climáticas em termos de precipitação, as cheias de 1967).

Os Invernos apresentam uma tendência decrescente de precipitação desde 1969, com ligeira recuperação na última década, mas ainda assim, muito longe dos valores anteriores a 1979, ou seja, os Invernos estão efetivamente a tornar-se cada vez mais secos, sinal da inversão da corrente de jacto para norte e bloqueio anticiclónico mais frequente nas nossas latitudes. Sem que seja possível verificar com estes dados, é importante salientar que os invernos, estão a descompensar cada vez mais a água no solo principalmente no interior norte e centro e região sul, que são as zonas mais desfavoráveis devido ao intenso bloqueio.

Em termos práticos, a precipitação tem tendência a diminuir no futuro, com uma situação que importa referir, iremos entrar muito possivelmente num regime de seca crónica (que já existe em alguns locais do território mas que poderá ser alargado nos próximos 20 a 30 anos).

TEMPERATURA

Em termos de temperatura, o sinal é claro, ou seja, em termos médios, máximos e mínimos, existe uma tendência crescente do valor da temperatura na médias das estações nacionais.



Importa acrescentar que o declive de crescimento do gráfico das temperaturas é mais significativo nas máximas que nas médias e igualmente mais notório nas médias que nas mínimas. Ou seja, apesar do crescimento de todas as temperaturas nas décadas de 1930 a 2020, é estatisticamente mais aceitável referir que as temperaturas média e máxima do ar estão a crescer a um ritmo mais claro e expressivo que as mínimas.

Este é um artigo de previsão totalmente estatístico, elaborado para si e o qual agradecemos que possa partilhar para que chegue a mais pessoas!

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