É um termo forte e que começa aos poucos a ser novamente utilizado pelos diversos meios de comunicação social e redes sociais. Nem todas as secas são semelhantes e existem vários tipos distintos de secas. Saiba mais no artigo seguinte preparado inteiramente para si!
Antes de começarmos a falar, vamos conhecer os vários tipos de seca!
A seca meteorológica indica de certa forma o que deveria ter chovido num determinado local, face ao que efetivamente choveu e tem ainda em consideração fatores como a evaporação.
A seca agrícola é a seca dos solos. É representada pelo nível de água no solo e pode subir e descer muito rapidamente, entre um mês chuvoso e seco, respetivamente… em finais de dezembro tinhamos todo o território em situação de saturação completa ao nível dos solos e já começamos a ter clareiras com menos de 50% de água… mais uma vez, os muitos dias sem precipitação, o aumento da evaporação e a menor precipitação face ao normal e sobretudo mais concentrada a fazer descer abruptamente esses níveis.
A seca hídrica ou no armazenamento das albufeiras é dada fundamentalmente pelo volume médio armazenado nas albufeiras constituintes das várias bacias hidrográficas e é igualmente representado pela diferença face ao valor médio ou normal de armazenamento.
O pesadelo de 2021/2022
Em finais de Março de 2022, apesar da muita precipitação que caiu nesse mês e que fez os níveis de água nos solos subir significativamente, as albufeiras estavam com níveis muito baixos para o que era habitual… quer pela reduzida precipitação ao longo do ano hidrológico quer por alguns problemas em termos de gestão! E estávamos a terminar praticamente o período chuvoso, restando abril a junho e com grande parte das fichas e esperança no mês das águas mil!
Nas imagens abaixo, conseguimos perceber que Março de 2022 foi um mês muito chuvoso em todo o território, mas não foi suficiente para colocar NENHUMA parte continental acima dos 75% do normal de água precipitada desde outubro de 2021 e até março de 2022 (Imagem da direita).
Face a esta intensa precipitação, os solos ficaram com mais água em grande parte do território, mas o país continuava em seca (entre seca fraca a severa), não só meteorológica como também hídrica (as albufeiras apresentavam níveis muito baixos de armazenamento face ao normal e a preocupação das entidades gestoras estava no limite)… era preciso enfrentar um período de estiagem longo e temia-se o pior!
Mas Abril pouco ajudou… e daí em diante foi constantemente abordado o tema SECA!
Foram meses complicados, entre abril e setembro! O país atingiu uma situação quase limite em termos de seca, ao chegar a extrema na maior parte dos locais… albufeiras chegaram a secar quase por completo e o abastecimento de água às populações esteve em RISCO, tendo mesmo ocorrido limitações e intervenções locais para redução de consumo e perdas.
Mesmo em meses com pouca precipitação, o índice SPI (que indica o que deveria ter chovido num local face ao que choveu efetivamente) a 6 meses, mostrava que entre março e agosto todo o território tinha estado abaixo do normal em termos de precipitação, à exceção de 3 pequenas zonas, em estado normal.
Olhava-se com muita apreensão para o ano hidrológico 2022/2023… se não chovesse entre setembro e novembro, a calamidade poderia chegar a vários locais, mesmo em termos de consumo humano… e em finais de setembro, mesmo bacias com enorme resiliência estavam literalmente a precisar de água como de pão para a boca.
Setembro avisou que algo mudava e até final do ano choveu significativamente!
Setembro começou a remontada em termos hídricos… primeiro ao nível da regularização da precipitação face ao normal expectável para o mês e depois abrindo caminho a mudanças significativas no ano hidrológico 2022/2023 que começou dia 1 de outubro de 2022.
Se se recordam, o ex-furacão DANIELLE abriu o caminho atlântico que viria a ser nota dominante, primeiro a norte do Vale do Tejo e já mais para meio de novembro, começando a descer e chegando também à região sul… até final do ano de 2022.
As duas imagens seguintes mostram que os castanhos foram desaparecendo e o normal de precipitação em 3 meses começou a chegar também a sul!
Mas ficou por aí a sul!
Quando tudo parecia encaminhar-se para um ano a repor o normal também a sul, a precipitação começou a falhar a sul do Tejo a partir de Janeiro e até Março, nunca mais houve um mês normal em termos meteorológicos a sul do Tejo!
A norte e centro, Janeiro e Março foram meses normais a chuvosos, mas a sul do Tejo e no Ribatejo e Oeste/AML, voltou a pairar a sensação de que era preciso água rápida e urgentemente!
Como se pode ver nas imagens abaixo, os tons azuis representam valores normais a acima do normal em termos de precipitação e os tons mais quentes representam a situação inversa, isto é, menos chuva que o normal. Assim, facilmente percebemos que janeiro e fevereiro secos foram o suficiente para fazer com que mesmo o ano hidrológico 2022/2023 fosse abaixo do normal ,sobretudo no Baixo Alentejo e Algarve, sendo normal a chuvoso no restante território.
Neste momento, quase a chegar a finais de março, a situação é muito distinta do ano passado na esmagadora maioria do território continental.
Em primeiro lugar, grande parte das reservas estão em níveis muito elevados e mesmo a descarregar pela superfície, principalmente a norte e centro. Mesmo no interior alentejano e sotavento algarvio, os níveis de armazenamento são consideravalmente positivos, como se pode ver na primeira imagem abaixo, mas o problema persiste no litoral sul onde se englobam principalmente as bacias hidrográficas do Mira, Arade e sobretudo, do Barlavento.
Em segundo lugar, os solos estão a perder água neste momento pois não choveu praticamente em fevereiro e a sul, os 3 meses são demasiado secos face ao normal.
Em terceiro lugar e não menos importante… se o ano passado por esta altura se temia não conseguir abastecer as populações… há um sentimento de que ainda existe mais março, abril, maio e junho para dar um jeitinho nos solos e para dar um cheirinho nos níveis do litoral sul!
Há secas e secas! Por mais que estejamos em seca meteorológica e ela se agrave, neste momento, nada se parece com 2021/2022! Mas atenção, há que considerar um forte compromisso de gestão das albufeiras entre os vários stakeholders e há que perceber que um início de ano hidrológico 2023/2024 mais seco poderia representar um retrocesso em todo este processo!
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