A atmosfera é uma “coisa” muito complexa! Nem tudo se restringe a “chove ou não?”… e é nas entrelinhas que muitas vezes está a maior dificuldade de prever. Neste caso, o Vórtice Polar Estratosférico está sujeito a um intenso aquecimento e fortes deformações que podem ou não fazer mexer as peças mais abaixo, onde nos influencia. A imagem de capa deste artigo mostra um aquecimento da estratosfera (cores vermelhas no meio dos azuis).
Pensemos no corpo humano
A estratosfera é como se fosse a cabeça da atmosfera, a cerca de 30km de altitude.
Nesta altura do ano e ao longo do Outono e Inverno do Hemisfério Norte, é normal o Ártico, nessa altitude, apresentar baixas pressões persistentes. A reduzida luminosidade no Polo Norte ao longo das estações frias gera então essa instabilidade, fruto de temperaturas muito baixas na estratosfera.
O início da mudança para a fase primaveril começa a incidir luminosidade e os primeiros aquecimentos na estratosfera ao nível do Ártico. Quando esse aquecimento é suficiente para provocar deformações ou degradar o Vórtice, chamamos SSW, ou seja, aquecimento súbito da estratosfera.
Se na cabeça da atmosfera as peças começam a mexer, o mesmo não se passa imediatamente com os outros órgãos, ou seja, para que a instabilização provocada pelo aquecimento chegue mais abaixo, ao estômago (onde poderíamos considerar que as massas de ar que nos afetam se movem), é preciso alguns dias (10 a 15 dias)… mas nem sempre o estômago sente a dor que a cabeça teve, ou seja, nem sempre os efeitos passam para baixo.
Por vezes temos dores de cabeça enormes que até mau estar nos provocam e só apetece estarmos deitados… se pensarmos nisso como a atmosfera, nessas condições o aquecimento passava para os níveis mais baixos e a mudança de local das peças na estratosfera (cabeça) seria também visível na troposfera (o tal estômago).
Mas… às vezes só nos dói mesmo a cabeça e nada mais… à atmosfera também… pode aquecer na estratosfera mas tudo ficar tal e qual como estava cá mais abaixo.
Se não passar para baixo é mais fácil modelar mas… e se passar?
Aí é que está o problema dos modelos! A dificuldade é perceber se a dor de cabeça é assim tão forte ao ponto de colocar em causa os órgãos mais baixos e mexer as peças da troposfera, ao ponto de chegar ao solo, ou seja, aos pés da atmosfera!
Em casos de não propagação, os fatores a considerar pelos modelos são menores, pelo que a dúvida associada, ainda que grande, é sempre menor do que se colocarmos em cima do caos, o fator estratosfera.
Atualmente os modelos estão muito instáveis na definição do aquecimento e do seu reflexo nos níveis mais baixos e por isso mesmo, muito instáveis. São saídas com muita chuva, seguidas de pouca ou nenhuma… neve em cotas mais baixas e logo de seguida subidas fortes de cotas e vice-versa.
A culpa é em grande parte de até onde os azuis chegam no gráfico seguinte… se vierem até cá abaixo, aos 1000 no eixo vertical, ou seja, aos pés da atmosfera, então poderemos ter um jogo de xadrez muito movimentado e mais difícil de prever pelos modelos.
Uma coisa parece certa…
Até dia 20 teremos temperaturas acima da média e tempo maioritariamente mais seco… mas tudo pode mudar rapidamente a 22 e para a frente!
Basta que os impulsos polares comecem a ser “repelidos” para sul, ou seja, basta que as depressões transportando massas de ar frio polar consigam descer o suficiente para arrefecer latitudes que até agora estiveram mais quentes.
Na imagem seguinte, animada, conseguimos ver os azuis e lilás a serem expelidos para sul, na primeira etapa de uma possível propagação, que a ter efeitos será mais sentida nos últimos 4 a 5 dias do mês e início de março.
Esta primeira cartada meteorológica aponta para uma depressão em deslocação para leste, com frente e aguaceiros, bem como neve em pontos médios e altos (dependendo da posição e intensidade da massa de ar pode mesmo nevar a cotas relativamente baixas a norte e centro – acima dos 600m pelo menos).
Depois disto, tudo gira em torno de probabilidade! Nova depressão? Corredor? Anticiclone? Tudo depende da intensidade da dor de cabeça, porque se passar, como acreditamos que possa passar para baixo, poderemos ter uma circulação ondulada de jet, alguns eventos de frentes (chuva) e aguaceiros, mas também maior recorrência de neve para o que falta no final do mês de fevereiro e parte de março.
As andorinhas já chegaram, mas não nos parece que o inverno já tenha acabado!
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MUITO OBRIGADO!
Comments (2)
Bom fim de semana com muita saúde e paz
A @MetroMira, deixa-nos sempre bem elucidados , os meus agradecimentos.
Leio sempre os V artigos com muito interesse. O V trabalho é de excelência
Muito obrigada
Muito obrigado!