Qualquer amante de trovoada sonha com tempo quente fora de época!
Pode parecer estranho, mas há uma relação direta entre a subida significativa das temperaturas e a ocorrência de trovoadas e isso tem a ver com as baixas temperaturas em altitude em grande parte do Hemisfério, na Primavera.
Primavera – Estação de transição
Estamos alguns meses mergulhados em tempo mais fresco e com alguma chuva, mas a atmosfera, que trabalha todo o ano, procura a todo o custo fazer uma dura transição do tempo fresco para o tempo quente.
Começa a época das temidas e adoradas trovoadas por gradiente térmico!
São as mais temidas e adoradas trovoadas! Adoradas pela intensidade, pela explosividade das células, mas também temidas, por provocarem geralmente danos muito elevados à agricultura e a infraestruturas – podem desencadear facilmente e em poucos minutos, precipitação muito elevada (geralmente acompanhada de granizo ou saraiva) e/ou fenómenos extremos de vento.
Antes de acontecerem, o ar à superfície tem de aquecer e, para tal, a atmosfera vai libertando gradualmente os primeiros focos de tempo quente (de sul). Muitas vezes começa a aquecer em finais de Março outras vezes acontece em meados de Abril e, ainda outras vezes, já em Maio. Daí, estes meses, que representam a Primavera Climática serem denominados de meses da “montanha russa”.
O que vou vestir hoje? Está tanto calor! Passado uns dias perguntamos o mesmo, com tempo fresco! É mesmo assim e tudo pode ser facilmente explicado pelo caos que domina a atmosfera neste período de transição…
Tal como nós não sabemos o que vestir… a atmosfera quer aquecer mas tem de lidar ainda com o frio em altitude…
E é esse frio que, ao colidir com o ar quente à superfície desencadeia as trovoadas.
A imagem de cima representa a temperatura a cerca de 5600m de altitude e na mesma podemos ver que o ar quente vai subir na Península Ibérica (quente, neste caso, são 14 graus negativos a cerca de 5600m de altitude e que podem trazer quase ou até mais de 30ºC à superfície).
Mas é quente! Porque como se pode ver, bem próximo da nossa latitude estão 34 graus negativos na mesma altitude.
Repare que enquanto o ar quente se instala à superfície vindo de sul (seta a vermelho), já o ar frio vai descendo de noroeste (seta a verde)…
Numa fórmula matemática complexa, tudo isto se conjuga em alguns índices de instabilidade, dos quais são os mais conhecidos, o CAPE (energia potencial convectiva disponível) e o LI (diferença entre a temperatura a cerca de 5600m e a temperatura de uma massa de ar elevada da superfície até aos 5600m de altitude). Como se pode ver, o Lifted Index (refere precisamente esta diferença entre a temperatura à superfície e a temperatura em altitude) e tudo gira bastante em torno disto mesmo!
Quanto mais calor à superfície e mais frio em altitude maior será o CAPE e mais significativo será o LI, logo, mais intensas serão as trovoadas, maior a probabilidade de downbursts ou eventualmente algum fenómeno mais intenso e maior a probabilidade de queda de granizo e saraiva (que poderá ser de dimensão mais significativa).
Por isso, se você gosta de um tempo bem quentinho numa estação de transição (principalmente a primavera) e não gosta de trovoadas, saiba que nem tudo o que luz é ouro… o calor fora de época e em especial, quando muito intenso, traz sempre água no bico.
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