Em primeiro lugar, o Sahara já foi um lugar verdejante, uma verdadeira floresta húmida. E na verdade, o Sahara regressa ciclicamente a esse estado após alguns milhares de anos.
O que hoje é o árido, quente e inóspito deserto do Sahara, no norte da África, era uma região de savanas e pradarias com alguns bosques, lar de caçadores que viviam de vários animais e plantas, sustentados por lagos permanentes e muita chuva.
Era assim entre 5 e 10 mil anos atrás – período conhecido como do “Sahara verde” ou “Sahara húmido”.
Hoje, o Sahara é um local desértico, a sul do qual uma extensa zona de vegeração (bem visível na imagem abaixo) é bafejada por intensa precipitação, conduzindo depois para o Atlântico a nebulosidade que alimenta os ciclones tropicais no designado Trópico de Caranguejo.
Tudo na atmosfera tem ligação com posições de altas e baixas pressões (anticiclones e depressões/ciclones) e com os ventos que circulam em altitude, neste caso designados de ventos alísios, que são ventos regulares quanto à direção e constantes em intensidade e que sopram todo o ano, de leste para oeste, das altas pressões subtropicais para as baixas pressões equatoriais da Terra.
Como se pode ver na imagem abaixo existem os ventos alísios de nordeste no hemisfério norte e de sudeste no hemisfério sul convergem numa zona designada de “Zona de Convergência Intertropical”.
É precisamente nessa zona que a humidade é elevada e onde se desenvolvem e circulam geralmente os ciclones tropicais, com incremento de atividade ainda em terra, na média África e deslocação para oeste, na circulação dos ventos.
Mas o que se passou este ano para neste período chover muito mas muito mais que o normal no deserto?
Chover no deserto não é caso único, em primeiro lugar… chover pouco é o normal e muito pouco nesta altura do ano mas por vezes chove. O que não é normal é chover tanto em tão pouco tempo, relembrando o período do Sahara húmido. E isso aconteceu porque a zona de convergência intertropical (ZCIT) subiu em latitude este verão e essa subida é, em parte, responsável pela redução da atividade tropical no Atlântico e pela quantidade de poeiras que tem assolado o Trópico de Caranguejo.
Isso significa que vamos sofrer consequências já este ano?
Para responder a esta questão vou dar um exemplo… eu comer salada uma vez não faz de mim um vegetariano. Para ser vegetariano precisava de comer vegetais por norma, evitando a carne e o peixe.
A situação que ocorreu este ano e que naturalmente não é habitual, sendo para já um caso isolado não é sinal de que vamos já ter um Sahara húmido para o ano ou em breve. Se não comermos salada frequentemente não somos vegetarianos… se a ZCIT não subir por norma e a situação atual não for recorrente e a normalidade, então não podemos assumir mudança significativa neste aspeto e decorrente disto.
Se efetivamente se começar a verificar esta tendência nos próximos anos e décadas, com a reflorestação do Sahara, é natural que a posição do deserto possa sofrer alterações, com subida… mas para já e apesar de se notar significativamente uma redução de precipitação na metade sul da Península Ibérica, tal ainda não se verifica… e na verdade, segundo alguns estudos, a metade sul da Península Ibérica já foi em tempos uma área desértica.
Se se verificar, efetivamente nunca nos esqueçamos que o Sahara já foi várias vezes uma floresta húmida.
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