Após a passagem da massa de ar polar, húmida e fresca, como naturalmente, a depressão alojou-se perto de Itália e continuará a gerar ao longo de toda a próxima semana tempo muito frio e nevadas significativas na Europa Central, Itália e Balcãs, mas também no norte de Espanha, como se pode ver pelas riscas da imagem abaixo.
Isto acontece porque a massa de ar frio polar acabará por ficar “abraçada” por entre o Anticiclone que se estenderá desde os Açores até à Escandinávia. E mais fácil que mil palavras, é uma imagem. Repare nas cores vermelhas, mais próximas do que é o tempo anticiclónico e as cores azul/lilás, mais próximas do que são os sistemas depressionários.
A posição do anticiclone na Europa de Norte favorece a inversão dos ventos em altitude, para ventos leste, isto porque, como é já sabido, os anticiclones (ou altas pressões) rodam no sentido dos ponteiros do relógio… assim, na parte inferior da imagem acima, ali na Europa Central, os ventos são maioritariamente do quadrante leste, transportando essa bolsa de ar frio em altura para oeste, em direção à Península Ibérica.
Na primeira imagem abaixo, conseguimos ver a deslocação dos ventos em altitude (300hPa – ou cerca de 9km de altitude) no sentido leste – oeste, pelas setas ao longo da Europa e na 2ª imagem, em animação, temos a noção da deslocação da “retrógrada” em direção à Península Ibérica ao longo da semana:
Uma das questões muito apontadas pelos nossos seguidores é naturalmente se a retrógrada conseguirá chegar à Península Ibérica? Neste momento diria que a probabilidade disso acontecer é baixa, pois a posição e intensidade do Anticiclone deverá deixar a depressão aproximar-se de Espanha e encaminhá-la rapidamente para sul, não permitindo a instalação da mesma em terras continentais. No entanto, tudo na atmosfera é caótica e o comportamento deste tipo de depressões é mais errático que as depressões normais com componente oeste. A resposta não é fácil e tudo dependerá precisamente quer da intensificação do anticiclone, quer da sua posição quer mesmo da intensidade da bolsa de ar frio em altura ou de uma possível interação com um sistema depressionaráio a sudoeste de cariz subtropical e que poderá fazer aproximar mais a depressão.
Para tal, repare em 3 peças essenciais: o anticiclone (a vermelho e amarelo), a posição da retrógrada (assinalada a tons verde nas imagens e a tal depressão a sudoeste que no gfs e ecmwf aparece a sudoeste dos Açores, ou seja, sem interação com a retrógrada e no caso do CFS aparece já com interação, lançando o anticiclone bem para norte.
Obviamente temos de ser realistas e o CFS não é por norma um modelo muito fiável, pelo que diria que algo entre ecm ou gfs poderá acontecer efetivamente e parece-me que Espanha vai ter novamente neve em vários locais e mesmo neve a cotas muito baixas… mas essa neve, caso a depressão isolada em altitude consiga chegar até nós, poderá efetivamente despoletar em situações isoladas e neste momento de impossível previsão, esse mesmo cenário de neve a cotas baixas… para tal, deveria ocorrer, no mínimo, algo do género do gfs, com os tons azuis a posicionarem-se sobre nós e com uma depressão a sul trazendo alguma instabilidade. Isto efetivamente poderia despoletar neve localizada (até a esta palavra importante) em zonas onde não é de todo habitual… mas a probabilidade, neste momento é baixa disso acontecer!
Mas… há que realçar mais uma vez que o comportamente destas depressões é errático e apenas a poucos dias se consegue estimar com melhor precisão.
O que é certo é que as temperaturas, vão descer muito significativa a partir de domingo essencialmente e teremos a partir de 2ª feira:
FORTES GEADAS NO CONTINENTE / FRESCO E SECO NA MADEIRA / MAIS AMENO NOS AÇORES MAS SECO:
O ar frio continental será empurrada pelo jet leste/nordeste, dando finalmente uma sensação de frio muito intenso não só a norte e centro mas também a sul e trazendo mínimas muito mais baixas, com formação de gelo ou geada em grande parte do território e sincelo no nordeste transmontano (com nevoeiro persistente), ao longo da semana de 23 a 27 janeiro 2023. Temperaturas baixas também pela Madeira ao longo da próxima semana, com tempo maioritariamente seco nos Arquipélagos, após um fim de semana com muitos aguaceiros na Madeira. No entanto, tudo dependerá do cenário de evolução da retrógrada e uma possível interação com a depressão a sudoeste traria tempo instável primeiro às ilhas e depois ao Continente (apesar disto, o cenário para tal é de probabilidade baixa neste momento).
Repare nas temperaturas ao nivel do solo, previstas em alguns dias da próxima semana (esta não é a temperatura do ar, mas sim um importante contributo para a indicação da formação de gelo ou geada junto ao solo):
E SE A RETRÓGRADA CONSEGUIR ENTRAR MESMO EM PORTUGAL CONTINENTAL?
Mesmo sendo pouco provável neste momento, temos de perceber que 9 a 10 dias de distância para uma depressão com este tipo de comportamente é uma eternidade e eventualmente, ainda é possível que a mesma se aproxime de cá… até porque há membros dos ensembles e algumas saídas operacionais que o mostram e nesse cenário (reforço, pouco provável neste momento… dia 20 de janeiro) tudo seria possível… onde o ar fosse mais frio em altitude e onde a instabilidade ocorresse, tudo era possível… mesmo nevar ao nível do mar. Duas imagens, do ensemble do ECM e GFS que mostram essa pequena possibilidade ainda:
Neste tipo de entradas continentais, onde se gera instabilidade, geralmente neva a qualquer cota! E foi precisamente o que ocorreu quando nevou ao nível do mar em 2006 (Lisboa, região centro e sul), 2009 e 2010 (mais a norte e centro), 2017 (no sotavento algarvio) e 2021, por exemplo, no Alentejo.
Em breve, mais informações, em METEOMIRA
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